Sempre à margem.
Nunca além.
Havia um vazio.
Mas havia um outro lado.
Quem sabe o que se encontraria?
Mais do que aqui nesta margem finita?
Assim pensou o homem.
Anos passavam como a grande água que ficava entre ele e seu desejo.
Sua curiosidade.
Uma noite a tempestade.
Relâmpagos, vento, medo.
Em sua caverna, ele escondia seu rosto no chão.
Raiou o dia.
Sol alegrou sua face.
Como de costume foi até a margem sonhar com o outro lado.
Espantado viu que um grande tronco agora ligava os dois extremos.
Seu corpo tremia.
Emoção, pavor.
Ambos confundiam sua mente.
A curiosidade era maior.
O desejo de ver o invisível.
Gatinhando, tal qual uma criança, foi sobre o tronco.
Sob ele a grade água passava quase que furiosa.
Mas avançou, avançou, avançou.
Quando trêmulo seus pés tocaram o solo, seu coração disparou.
Enfim o outro lado.
O outro mundo.
Uma ponte.
A palavra ainda não existia.
Porém, ali estava ela.
Um caminho além da margem.
Séculos passaram.
A palavra surgiu.
O homem deixou as cavernas.
Trouxe consigo o conhecimento.
Na margem do Eufrates, Ur.
A mais antiga cidade tinha pontes.
Pedras das pirâmides passaram sobre pontes.
As pontes do Reno que Cesar construiu para deter os germanos.
Pontes que salvaram um império.
Pontes dos eternos amantes de Verona.
Que suportam o peso dos amores perdidos sobre o Sena.
Pontes.
Que ligam vidas.
Sempre uma ponte estará ligando nossos caminhos.
Nosso destino.
Nosso diário quotidiano.